O ministro da Cultura e Turismo, Filipe Zau, enalteceu, nesta quarta-feira, 8, em Moçâmedes, o papel das mulheres angolanas na sociedade, tendo considerado elas como agentes estratégicas da democracia e do desenvolvimento.
Filipe Zau testemunhou no Pavilhão Gimnodesportivo Welwitschia Mirabilis, em Moçâmedes, o culto ecuménico a favor das mulheres angolanas, em particular as da província do Namibe, uma actividade religiosa organizada pelas representações das distintas igrejas filiadas no Conselho das Igrejas Evangélica de Angola (CICA), bem como na Aliança Evangélica de Angola (AEA), e orientada pelas respectivas pastoras.
O governante ressaltou a importância das mulheres no contexto das nações, tendo afirmado que por aquilo que viu, pela sua representação, que “a mulher, é de facto, o sexo forte”. Apesar disso, realçou não querer necessariamente que homens se imponham às mulheres e muitas vezes através da violência doméstica, mas também, “penso que não é o sentido de haver mulheres que se sobreponham aos homens”.
Para Filipe Zau, o importante é que a mulher apareça sempre ao lado do homem em pé de igualdade. “É por isso que o dia 8 existe. Portanto, parabéns pela vossa luta de se tornarem iguais a qualquer ser humano”, elogiou, para acrescentar que hoje em dia, em Angola, “para nós”, a mulher é entendida como agente estratégico da democracia e, daí, o papel que a mulher representa ao lado do homem, em pé de igualdade, “porque no mundo, perante Deus somos todos iguais”.
O ministro entende que a mulher também é um agente estratégico de desenvolvimento, referindo-se à representação das diferentes mulheres no acto, pelas profissões que elas exercem, que não é só vista no seu papel para procriação, mas também ao lado do homem, a trabalhar, para o desenvolvimento, para o progresso e para o bem-estar de todos, neste “nosso país”. Filipe Zau aproveitou a ocasião para felicitar a todas as mulheres presentes no culto e todas as mulheres angolanas que não estiveram, mas que representam o país nesse mesmo papel.
Avançou que a mulher também deverá cada vez mais, neste mundo de mudança, assumir o papel do acesso ao conhecimento, porque hoje em dia o conhecimento é “determinante” para o desenvolvimento. “E quando nós educamos uma mulher, temos a certeza que estamos a educar uma família”, disse o ministro, para quem a família angolana está a precisar de valores e de princípios que “nos possam” fazer valorizar o sentido da paz, dos direitos humanos, da justiça social, da democracia representativa, e o princípio da justiça social.
“E é com isso que nós podemos nos comprometer, darmos as mãos e lutarmos todos nós para este país que queremos cada vez melhor. E só vamos conseguir se estivermos todos juntos de mãos dadas na graça de Deus”, concluiu.
O governador provincial, Archer Mangueira, disse ser uma grande satisfação estar no meio das mulheres angolanas, do Namibe e da terra da felicidade. Frisou que todos os homens têm o dever de agradecer a elas por estarem vivos, pois “nós somos o que somos, graças às mulheres. Portanto, quando brindamos a vida, brindamos sempre à uma mulher. E hoje, é dia especial porque é dedicado àquelas pessoas que nos dão a vida”.
Um desfile “coreográfico” nos mais variados níveis profissionais, bem arrumado, representou bem a importância da mulher na sociedade angolana e particularmente na sociedade namibense, sublinhou Archer Mangueira, para quem elas são, de facto, o sexo forte assim como afirmou o ministro Filipe Zau, e, “já não sei bem se devemos estar sempre ao lado de uma mulher, porque elas já estão à frente de nós”.
O culto solene de acção de graças em alusão ao Dia Internacional da Mulher realizou-se sob o lema “Deus em bom em todos os tempos e em todos os tempos Deus é bom”. Durante a homilia foram realizadas orações de intercessão pelas famílias contra a violência doméstica, pela paz das nações e pelo consolo da família e pelo Gabinete Provincial da Acção Social, Família e Igualdade de Género (GPASFIG) esta última em memória da então directora deste Gabinete, falecida recentemente em Moçâmedes, vítima de acidente de viação, na Estrada Nacional –EN 280, Lubango-Namibe.
A sede do Centro Regional de Energia Renovável e Eficiência Energética na África Central (CEREEAC) será inaugurada, sexta-feira, em Luanda, em acto a ser orientado pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, soube o JA Online.
“Este centro é uma instituição especializada da CEEAC, cuja missão é assegurar a coordenação da implementação da política da CEEAC sobre as energias renováveis e eficiência energética e promover a criação de um mercado CEEAC integrado e inclusivo para produtos e serviços relacionados”, de acordo com uma nota do Ministério da Energia e Águas enviado ao JA Online.
O objectivo do evento é, em linhas gerais, a entrega oficial pelas autoridades da República de Angola, da Sede do CEREEAC à Comunidade Económica dos Estados Membros da África Central.
Conforme a nota, o evento será prestigiado por representantes das autoridades administrativas, sector privado e sociedade civil angolana, embaixadores dos Estados-membros da Comunidade acreditados em Angola, nomedamente Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Congo, Congo RD, Gabão, Guiné Equatorial, Ruanda, São Tomé e Príncipe e Chade), entre outros parceiros do projecto.
São conhecidos, actualmente, em Angola, 36 dos 51 minerais considerados mais críticos ao nível do mundo, alguns dos quais prestes a entrar em produção.
A lista será revisada, se necessário, em cada cinco anos, em consulta com os especialistas da indústria de mineração.
Segundo o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, na abertura do Fórum de Investimentos, à margem do Mining Indaba 2023, o país é dotado de um enorme potencial mineiro para tecnologias de energia limpa que, entre outros, inclui crómio, cobalto, cobre, grafite, minério de ferro, chumbo, lítio, manganês, neodímio, praseodímio, níquel, prata, titânio e zinco, todos eles em diferentes estágios da cadeia de valor do desenvolvimento mineral.
Considerando este facto, o governante garantiu que Angola é e será uma fonte confiável para os minerais críticos necessários para a transição energética, acrescentando que o “Governo angolano não apenas promoverá a extracção desses minerais, mas também exigirá que uma parte significativa da cadeia de valor desses minerais seja desenvolvida no país”.
Diamantino Azevedo disse ainda que “dada a necessidade urgente de desenvolver os minerais críticos de Angola, os esforços iniciais estão concentrados nos minerais como lítio, minério de ferro, níquel, chumbo, cobalto, cobre e elementos de terras raras, visando toda a cadeia de valor”. Nesse sentido, segundo o ministro, nos próximos anos, prevê-se o início da produção de neodímio e praseodímio, utilizados na fabricação de baterias para carros eléctricos, além de cobre e nióbio.
“Isto significa que Angola pode dar um grande salto em termos de exploração de minerais críticos, nos próximos cinco anos.
Actualmente, os minerais críticos representam uma oportunidade geracional para o Governo de Angola, economia e futura emissão líquida zero. Eles são a base sobre a qual a tecnologia moderna é construída”, ressaltou Diamantino Azevedo.
Oportunidades
Durante o Fórum, que decorreu sob o lema “Minerais Críticos para a Transição Energética”, o ministro informou que Angola tem projecções para desenvolver, significativamente, projectos de exploração de minerais críticos para vários desses minerais, superando as necessidades actuais.
As oportunidades existem em todas as províncias do país onde ocorrem minerais críticos.
Para os potenciais investidores, Diamantino Azevedo garantiu também que o país tem depósitos significativos de minerais críticos, um ambiente de investimento estável, forte modelo regulatório e de boa governança para atrair empresas confiáveis de muitos dos principais países investidores do mundo.
“Para simplificar, podemos dizer que os nossos potenciais investidores precisam de confiar em alguém. Então, vamos fazer com que eles confiem em nós”, sublinhou.
Empresas garantem investimentos no sector
O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, anunciou na África do Sul, à margem do fórum de minas, que muitas empresas estrangeiras garantiram investimento ao sector mineiro angolano. A declaração de Diamantino Azevedo foi prestada à saída da conferência intergovernamental, realizada à margem do Mining Indaba 2023.
O governante referiu ainda que, na conferência, apresentou as realizações do sector, quer ao nível das reformas legislativa e institucional, que resultou no actual Modelo de Governação, como ao nível do aumento do conhecimento geológico.
Diamantino Azevedo avançou que houve um incremento de facilidades técnicas com a construção de laboratórios, assim como de escolas técnico-profissionais e centros de excelência construídos durante os últimos cinco anos.
“Temos como resultado do mandato anterior a atracção de três grandes empresas para Angola, nomeadamente, a AngloAmerican, Rio Tinto e a De Beers e ainda outras de pequena e média capacidade”, disse o governante.
Das várias audiências mantidas na África do Sul, Diamantino Azevedo recebeu garantias de muitas empresas investirem em Angola.
“Já resolvemos os problemas que faziam com que algumas empresas não tomassem a decisão final para irem ao país”, destacou o ministro.
Diamantino Azevedo disse que deixou aos participantes a mensagem de que o sector mineiro angolano perspectiva a melhoria das questões ambientais, maior envolvimento das comunidades próximas das áreas mineiras para que possam beneficiar da actividade de mineração.
“Nesta Mining Indaba 2023, estamos com a certeza de que alcançamos os objectivos. Preparámos bem a nossa participação e, neste ponto de vista, estamos satisfeitos”, concluiu o ministro.
EUA apoiam projectos de terras raras
O secretário de Estado adjunto para o Crescimento Económico, Energia e Meio Ambiente dos Estados Unidos da América, José Fernandez, disse que o seu país vai prestar assistência à empresa que desenvolve o Projecto de Terras Raras no país.
A confirmação foi feita durante o encontro que José Fernandez manteve com Diamantino Azevedo, em Cape Town, África do Sul. O governante americano disse ainda que os Estados Unidos da América vão apoiar Angola a trazer investimento para a prospecção e exploração de outros minerais críticos.
No encontro, foram também abordados assuntos ligados à estratégia do Governo americano para o apoio aos países africanos, dentre os quais Angola, no que diz respeito aos minerais críticos para transição energética. Os dois governantes passaram em revista assuntos ligados à parceria em termos de segurança dos minerais para transição energética, da prestação de assistência técnica, capacitação dos quadros angolanos e fornecimento de informação geológica (através dos Serviços Geológico dos EUA), cuja carta de acordo será assinada em breve.
O projecto de terras raras está localizado em Longonjo, província do Huambo, e é desenvolvido pela empresa australiana Pensana Rare Earths.
A Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX) e a Embaixada da Polónia acreditada em Angola vão realizar, no próximo dia 9 de Fevereiro, o Fórum de Negócios Angola-Polónia, em Luanda, afim de reforçar os laços de cooperação económica bilateral.
O JA Online soube junto de uma nota da AIPEX que o evento vai servir igualmente, para facilitar o estabelecimento de potenciais parcerias entre empresários dos dois países, nos mais diversos sectores.
A mesma fonte adianta também que o referido fórum vai contar com as intervenções do secretário de Estado para a Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas do MIREX, Domingos Custódio Vieira Lopes, o secretário de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República da Polónia, Pawel Jablonski, o Presidente do Conselho de Administração da AIPEX, Lello Francisco e o Presidente do Conselho de Administração da Agência de Investimento e Comércio da Polónia, ZdzislawSokal.
Para o fórum prevê-se igualmente, a participação de mais de 15 empresas polacas nos mais variados sectores, nomeadamente: Energia e Águas, Ambiente, Tecnologia e Inovação, Agricultura e Florestas, Pescas, Recursos Minerais, Saúde e Banca, como refere o documento.
A ministra dos Negócios Estrangeiros e dos Assuntos Europeus e do Comércio Externo da Bélgica, Hadja Lahbib, foi recebida pelo homólogo angolano, Téte António, na terça-feira, em Luanda, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro.
O JA Online soube através de uma nota enviada que a visita de trabalho da diplomata belga terá uma duração de 72 horas.
O documento refere ainda que dia 1 de Fevereiro, na quarta-feira, a ministra vai ter um encontro bilateral com o chefe da diplomacia angolana em Luanda e deslocar-se-á à Cidade Alta para uma visita ao Palácio Presidencial
Luanda – No quadro da celebração do Dia da Cidade de Luanda, a 25 deste mês, a ANGOP publica o levantamento abaixo, de autoria da arquitecta angolana Maria João Teles Grilo.
Por: Maria João Teles Grilo
A ideia de utopia da cidade como cidade ideal é um conceito renascentista. E, se nenhuma utopia posterior aos finais do século XV provocou o entusiasmo arquitectónico que o humanismo renascentista produziu, (imbuído de uma constelação de ideias em parte católicas e científicas), o século XX e a Arquitectura Moderna voltaram a ser movidos por um impulso utópico.
Dois modelos catalisaram, sobretudo, o imaginário moderno da urbe: a cidade futurista, “cujo dinamismo se aproxima de uma absoluta orgia de energia” (e que está subjacente em todos os planos posteriores), e a Ville Radieuse, que ainda hoje domina o imaginário da cidade/metrópole.
Giedion, com base em Wolffin, introduziu a noção de espaço-tempo (ou 4.ª dimensão), um conceito que vem da astronomia e da física natural e que é essencial na Arquitectura Moderna e na Arquitectura Contemporânea, sobre o qual se debruçaram todos os grandes arquitectos, nomeadamente Wright, Corbusier, Kahn, Vieira da Costa, Perret, Rem Koolhaas, entre outros.
Evolução urbanística da cidade: As primeiras fases da expansão física
O primeiro plano de urbanização foi elaborado em 1942 por Etienne de Grôer e por D. Moreira da Silva. Propunha a criação de cinco cidades satélites de 50 mil habitações dispostas em semicírculo, em torno do aglomerado existente e ligadas entre si por uma estrada de circunvalação.
Da aplicação desse plano, a cidade não guarda memória. A baía e o planalto sempre foram os dois núcleos em torno dos quais se desenvolveu a cidade.
As primeiras fases da expansão física deste período conservam a estrutura de base da orgânica existente, feita de percursos ordenadores de edificações de baixa densidade que ligam os pontos de desembarque aos núcleos de expansão que se estendem ao longo da costa. Sob a influência atractiva do ‘plateau’, a cidade alta organiza-se em linhas paralelas à costa e em formas circulares, formando uma malha regular fechada.
A construção da modernidade
Luanda vive, desde os anos 50, um crescimento tumultuoso. Internacionalmente, as primeiras independências em África, o “boom” do valor das matérias-primas, que gerou um incremento na economia privada, e a pressão internacional da ONU sobre Portugal para dar a independência às colónias foram as razões de fundo para a grande transformação operada nas cidades angolanas e mais ainda na capital.
A cidade dos quintais e dos sobrados foi rasgada por avenidas e contaminada pela febre de aspirar a metrópole africana.
Num processo cheio de contradições, o poder colonial tentava sedimentar a sua posição, enquanto a sede de independência e a de modernidade em profunda negação ao fascismo português e à dominação faziam sentir-se na afirmação de uma cidade moderna anti-regime.
Foi o início da bipolarização da cidade entre modernidade e periferia de musseques e bairros sociais feitos para negros. À burguesia nacional foram retirados poderes e empurrada para as áreas mais distantes dos centros – os musseques, o que tornou crescentes as revoltas.
De 50 a 60, a cidade cresceu sobre a planície, segundo uma disposição planimétrica em cunha, contrariada pelo eclodir de residências espontâneas. A chamada cidade informal começa a sua expansão e é cerne da construção da consciência urbana pró-Independência.
A clivometria(inclinação) exasperada da sua geografia produziu o desenho de fortes margens no interior do construído e deixou em aberto a definição dos seus limites, fixados apenas pela morfologia do terreno.
Erguida sobre um peristilo de ‘pilotis’ (pilares esguios e elegantes, que sustentam o edifício), a cidade do cimento dos anos 60 dá-nos a sensação de uma arquitectura suspensa e afirma a intenção declarada de representar uma moderna identidade.
Com fortes referências ao Movimento Moderno, trazidas directamente das fontes e digeridas nas bibliotecas particulares, sempre actualizadas, a cidade acusa, ainda hoje intactos, a aplicação de muitos dos característicos elementos corbusianos como o ‘tecto-jardim’, o ‘brise soleil’, o plano de vidro ensombrado por palas de protecção e o corpo construído como caixa aberta.
A influência fundamental vem do Brasil e não de Portugal, onde o fascismo proibia a expressão moderna. Faltou-lhe a plástica exuberante da arquitectura brasileira, mas tem como expressão mais sensível os remates de cobertura, dominantemente em terraço, onde pequenas formas montanhosas, vulcânicas e geométricas irrompem das coberturas, como jardins de pedra que, na atmosfera, desenham linhas visuais abstractas, que dançam para os Deuses, totalmente visíveis só num voo de pássaro.
Com um clima tropical quente e húmido, uma temperatura média de 26 graus e uma humidade relativa de 80%, a orientação relativa à irradiação solar e aos ventos dominantes, associadas às difíceis condições morfológicas, é uma das premissas que limitam drasticamente o leque de opções e conduzem a soluções específicas sob o ponto de vista topológico, obrigando a criar elementos emergentes que respondem à necessidade de assegurar a continuidade entre a orografia e o edificado.
A influência directa de modelos metropolitanos e a interpretação das condições climáticas produziram uma solução tipológica que representava uma adaptação dos ‘tipos’ importados dos países onde o Movimento Moderno mais se afirmava. Definem a cidade belíssimos objectos modernos, cujo levantamento sistemático urge fazer e cuja destruição urge parar.
Vasco Vieira da Costa, Simões de Carvalho, Pinto da Costa, os irmãos Castilho e tantos outros são nomes singulares na produção arquitectónica da cidade. O primeiro (Vasco Vieira da Costa), que de 45 a 48 trabalhou com Le Corbusier, o mais famoso arquitecto do século XX, e com ele participou do grupo fundador ‘ATBA: T de Paris’, tem, em Luanda, uma vasta obra, cuja exemplaridade didáctica assenta numa aturada investigação sobre temas específicos da construção na África Austral e constitui o único exemplo de manualística produzido em Angola sobre essa problemática.
Objectos de referência como o Mercado do Kinaxixi, destruído, o edifício das Obras Públicas, o edifício de habitação social para os servidores do Estado, entre outras coisas, assumem-se como marcos na cidade, criando uma ressonância cultural cujo valor é internacionalmente conhecido e internamente desprezado, infelizmente.
A arquitectura cosmopolita e nacionalista de Vasco Vieira da Costa
Em Vasco Vieira da Costa, a arquitectura e a paisagem, experiências lúcidas e separadas, são protagonistas de um debate no qual progressivamente se contradizem, se adaptam e aclaram, respectivamente, os seus significados. Uma obra que acusa uma grande consciência social, uma recusa ao poder colonial, que o faz ser afastado da Câmara Municipal e excluído das obras públicas.
Pelo contexto histórico, político e geográfico, os países que foram colonizados até 60/70 (as colónias portuguesas até 75) possuem um património de arquitectura moderna valioso e inovador.
As cidades angolanas são disso exemplo. Profundamente transformadas e ampliadas depois da 2.ª Guerra Mundial, por força da pressão internacional sobre Portugal para dar a independência às colónias, acentuada pelo início da Luta Armada de Libertação em Angola (1961), o país torna-se palco privilegiado de experiências para arquitectos angolanos e portugueses que, longe do distante de Portugal, dialogavam directamente com o Brasil e França, aonde iam beber influências, apropriando-se dos seus ideais e reinterpretando-os.
O salazarismo fechava os olhos, e o boom da especulação imobiliária, favorecida pela subida dos preços das matérias-primas no mercado internacional, ditava as regras e criava um campo de liberdade que permitiu a produção de um número significativo de obras paradigmáticas e singulares. A apropriação do espaço em Vasco Vieira da Costa faz-se pela equação do espaço interior e exterior em África, resgatando cada lugar em Angola.
A ocasião de projecto era um pretexto de investigação que elegia a localização como o lugar da mudança, e o desenho do corpo como se ensaiasse também o desenho da cidade. Todos os seus projectos têm uma atenção às relações de tipo urbano entre edifício e edificado: a implantação no lote, a relação entre o edifício e a estrada, a sucessão de espaços públicos até à célula privada, numa hierarquia de valor urbano.
Os edifícios são compostos por vãos abertos e grelhas, e organizados por transições entre o espaço privado, o espaço semi-privado (varandas e terraços), semi-públicos (galerias e áreas colectivas de uso de todos os moradores, lavandarias comuns, salas de convívio) e a cidade.
A noção de espaço-tempo em Vasco Vieira da Costa é desenvolvida e extrapolada para a cidade: permeabilidades, espaços de relação/transição, interpenetração, suspensão e valores da modernidade são, nesse arquitecto, também valores urbanos, o que faz dele o grande arquitecto nacionalista e visionário em relação à contemporaneidade.
Na sua ânsia de mudança, há uma ânsia de construir o espaço como uma celebração da cidade liberta, moderna, como um grito anticolonial. E talvez, por isso, dos edifícios de arquitectura da cidade de Luanda, dos quais a população se apropriou afectivamente, os de Vasco Vieira da Costa parecem ser lidos como uma pertença mútua.
Existe uma alma e um carácter que persistem, mesmo com as muitas alterações a que têm sido sujeitos desde os anos de guerra. Lembram-me sempre animais serenos, deitados ao sol, que olham ironicamente para o passar convulsivo da história.
Mas, a celebração do lugar e o questionamento permanente que gravou em todas as suas obras falam de um debate sobre a arquitectura em África, os ideais do MM, a reinterpretação dos sonhos de Marx e de Le Corbusier, numa terra onde, numa apostada oposição ao fascismo português, nada fosse mais natural, nada parecesse mais possível do que a utopia.
Em 1949, quando regressa a Luanda, vindo de Paris, a cidade dos sobrados e quintais estava mergulhada num crescimento tumultuoso. Vasco Vieira da Costa impõe-se a um desafio provocador: baralhar as cartas, mudando as regras do jogo que o poder colonial encobria.
Três são os seus edifícios de que falarei, por constituírem arquitecturas, exemplos paradigmáticos da investigação e experimentação sobre temas caros ao MM, bem como interpretações dos principais conceitos arquitectónicos, sociais e económicos da utopia do século XX: o Mercado do Kinaxixi, o bloco de habitação colectiva para os servidores do Estado e o edifício da Mutamba, hoje Ministério das Obras Públicas.
Num golpe de génio, Vasco Vieira da Costa sintetiza, literalmente, uma construção espaço-tempo, na sua integridade: o corpo, aparentemente unitário, foi ‘esvaziado’ em todas as direcções: de cima a baixo e de dentro para fora.
Também aqui, a compreensão desta quarta dimensão é apenas conseguida pelo corte transversal, peça de desenho central da arquitectura do movimento moderno, onde se percebe, em qualquer ponto, os espaços interior e exterior interpenetrados num jogo de multiplicação de ‘quadros’, de visões potenciais, dadas pela percepção obtida de diversos ângulos.
Paredes brise-soleil, grelhas pré-fabricadas que estruturam a relação entre os volumes vazados, pórtico de duplo pé direito, pilotis brilhantes e a decoração policromadasão elementos arquitectónicos característicos da sua arquitectura.
Superfícies permeáveis face às quais a cidade se coloca e elementos fixos através dos quais a cidade dialoga são, particularmente, bem desenvolvidos no edifício de escritórios destinado a uma companhia de automóveis na Mutamba (para onde se deslocou o centro da cidade nos anos 50) e hoje usado como Ministério das Obras Públicas.
Um edifício que se implanta como ‘elemento’de ligação de duas praças resultantes. Um pórtico de duplo pé direito em forma de U, recuado em relação às margens do gaveto, e sobre o qual assenta um corpo de mais de 40 metros de altura de dupla pele.
Fechado e mecânico por definição, torna-se aqui comunicante com a atmosfera através da dupla lamela feita de uma renda geométrica, que desmaterializa o corpo e se assume como um ecrã abstracto e suspenso e sem compromissos com a continuidade, sobre o qual se projecta o caminho sombreado do sol.
O tema do edifício do trabalho é equacionado aqui como forma de explicitar na uniformidade as necessidades do trabalho colectivo: a estrutura dos quebra-sóis não acusa as secções do edifício nem torna possível a leitura da individualização dos locais de trabalho.
Em 1965, Vasco desenha um edifício de habitação colectiva de baixo custo, tema ao qual dedicou a sua investigação no século XX. A unidade colectiva de habitação, a equação do custo controlado e da dignidade da vida urbana, o exercício da cidadania e a partilha do bem comum são problemáticas da utopia social que desenharam no século XX o rosto da esperança de uma maior equidade social. Temas caros a Vieira da Costa, que entendia a arquitectura como uma profissão de responsabilidade social e aos quais dedicou reflexões e ensaios sobre essa área do saber em Angola.
E, aqui, o projecto fez-se instrumento de reflexão, entendido segundo um forte cunho ideológico num brilhante exercício sobre o fluir do espaço, da luz e do vento, numa rigorosa aplicação de soluções bioclimáticas.
Uma atenção às ventilações cruzadas e às tipologias de distribuição, ensaiadas como uma hierarquia de espaços urbanos feita de sequências de espaços públicos, semipúblicos e privados, numa subtil transição cadenciada de espaços, como frames de um filme sobre o correr do tempo e da vida da cidade, simplesmente emoldurados desde o interior.
O caminho dos homens e o caminho dos ventos, aqui sustentados pela estrutura à vista, organizam as circulações num corpo sobre ‘pilotis’ que se implanta sem fazer terraplanagens, como em todos os seus projectos.
As soluções climáticas, para que o edifício respire naturalmente, são uma preocupação constante das soluções encontradas e desenham espaços vivenciais de um grande conforto térmico.
A cidade bipolar
Dominação e ‘dependência’ actual têm determinado a forma dualista da cidade. As duas estruturas que a compõem têm evoluído separadas por escolhas ainda rigorosamente actuais: uma destinada às funções do domínio da classe dirigente, estruturada segundo os modelos da cidade europeia; outra destinada à reprodução material dos recursos urbanos necessários ao funcionamento do sistema centralizador.
Essa, entendida como variante da primeira, alimenta, ainda hoje, e com continuidade, a reserva de trabalho da cidade e reproduz-se sem qualquer rigidez social ou física e sem investimentos que garantam mais do que a pura sobrevivência.
Contudo, os novos compromissos continuam a ser o desenvolvimento económico, a equidade social, a qualidade ambiental e a preservação dos recursos não-renováveis. E, se num olhar superficial parece haver uma ruptura entre modernidade e contemporaneidade, a continuidade é profunda como um rio que corre subterrâneo.
Por dentro
Nascida na cidade do Lubango, província da Huíla, Maria João Teles Grilo tem uma Licenciatura em Arquitectura, pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, 1984, e um Doutoramento em Urbanismo, pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, em 2014.
As suas funções actuais e a actividade profissional estaõ concentradas no ramo do Urbanismo e da Arquitectura, ao mesmo tempo que é administradora e arquitecta da empresa METAPOLIS – Planeamento, Arquitectura e Consultoria, desde 2004.
É igualmente consultora para projectos de investigação sobre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mais especificamente Angola, onde deixou a sua marca em vários projectos e várias consultorias de relevância, como a Urbanização Viana Park e de Talatona, em Luanda, bem como noutras províncias angolanas.
Tem feito inúmeras comunicações em congressos internacionais de Arquitectura e Urbanismo, bem como é autora de várias publicações relacionadas com a arquitectura e o urbanismo.
Foi professora da disciplina de Projecto de Arquitectura, na Universidade Lusófona, em Lisboa, entre 1996 e 1999, e de Projecto de Arquitectura e Teoria da Arquitectura, nas universidades Agostinho Neto, Lusíada, Metodista e a Universidade Privada de Angola (UPRA), em Luanda, entre 2000 e 2012.
Enquanto arquitecta, os projectos que realizou ao longo da sua carreira apresentam uma enorme diversidade de competências, tanto a nível da arquitectura, planeamento e consultoria.
No seu atelier (METAPOLIS – Arquitectura, Planeamento e Consultoria), lidera uma equipa de arquitectos e investigadores de diversas áreas, que produzem soluções e desenham para as novas necessidades urbanas, com um olhar global e uma sensibilidade local e cultural.
Presidente da LAASP, Elisa Salvador (arquivo) Joaquina Bento
Luanda – A presidente da Liga Angolana de Amizade e Solidariedade com os Povos (LAASP), Elisa Salvador, enalteceu, em Havana, o contributo de Cuba na preservação da independência de Angola.
A responsável falava na V Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, evento que encerra hoje (sábado) na capital cubana.
Citada por uma nota de imprensa da LAASP, Elisa Salvador sublinhou o facto de angolanos e cubanos estarem ligados por vínculos históricos profundos desde os primórdios da independência de Angola.
Para a responsável da LAASP, esse vínculo reflecte-se na relação de amizade e solidariedade entre a LAASP e o Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP).
Lembrou que a relação entre as duas instituições é anterior à assinatura formal de cooperação entre a LAASP e ICAP.
“A relação já era selada nos diferentes intercâmbios e ajudas entre as duas instituições”, expressou a presidente da LAASP, sublinhando a participação da instituição em diferentes eventos e acções de solidariedade com Cuba.
Na sua intervenção, a dirigente repudiou e considerou desumano o bloqueio económico e financeiro imposto contra Cuba, há mais de 60 anos, pelos Estados Unidos da América.
Com duração de quatro dias, a V Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo conta com representantes de cerca de 80 nações, guiadas pelo pensamento do nacionalista cubano José Martí – “Com todos e para o bem de todos”.
Este ano, o evento assinala o 170º aniversário do nascimento de José Martí, que se comemora hoje, 28 de Janeiro.
Luanda, 26 Jan (Prensa Latina) Os projectos de dinamização do comércio regional vão motivar uma análise das carteiras de transportes de Angola e Zâmbia sobre as perspectivas do chamado Corredor do Lobito, revelou hoje fonte diplomática.
O chefe do sector zambiano, Frank Museba Tayali, partiu quinta-feira de Lusaka para Luanda, a convite do seu homólogo Ricardo de Abreu, informou a embaixada angolana no país vizinho.
Na província ocidental de Benguela, banhada pelo Oceano Atlântico, o encontro realiza-se amanhã para avaliar, entre outros assuntos, a assinatura do acordo que vai criar uma agência para facilitar o transporte e trânsito no Corredor do Lobito.
De acordo com o programa, Museba Tayali vai visitar o Caminho-de-ferro de Benguela, com uma passagem de comboio da Catumbela até à estação do Lobito e uma passagem pelo porto neste último local, acrescentou a fonte.
A delegação que acompanha o ministro é constituída por altos funcionários de diferentes departamentos, bem como pelo embaixador angolano Azevedo Xavier Francisco.
Recentemente, o Presidente João Lourenço e o seu homólogo da Zâmbia, Hakainde Hichilema, ratificaram em Luanda o seu interesse em constituir uma verdadeira associação bilateral.
Isso incluirá, no campo econômico, produção agrícola, industrial e transformação de matérias-primas, bem como o desenvolvimento de ligações rodoviárias, ferroviárias e elétricas.
Em particular, salientaram o interesse no reforço das infra-estruturas do Corredor para as colocar ao serviço das economias da região, principalmente da Zâmbia e da República Democrática do Congo, que utilizam o andaime com base nas suas exportações.
No final de 2022, o Governo concedeu a gestão do negócio aqui a um consórcio europeu, constituído pelas empresas privadas Vecturis, Trafigura e Mota Engil, que assumiu o compromisso de investir cerca de 400 milhões de dólares para melhorar o funcionamento do complexo e assegurar serviços ferroviários e logísticos.
Luanda, 25 Jan (Prensa Latina) O Presidente angolano, João Lourenço, recebeu hoje o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, no final de um encontro entre as delegações dos países com vista ao reforço da cooperação.
As conversações, na sede local do Ministério das Relações Exteriores, foram conduzidas pelo chefe da diplomacia angolana, Téte António; e Lavron, que encerra amanhã sua visita de trabalho de 72 horas.
Segundo as partes, é interessante reforçar a colaboração no domínio das telecomunicações, no domínio técnico-militar, na assistência humanitária, na utilização da energia atómica para fins pacíficos, na agricultura, na indústria transformadora e diamantífera, bem como na educação e cultura.
Conforme anunciado por António, a análise das perspectivas de intercâmbio bilateral vai incluir uma próxima reunião da comissão intergovernamental, cujas sessões, em princípio, decorrerão em Luanda.
Sobre a situação internacional, o ministro assegurou que Angola privilegia o diálogo inclusivo, os compromissos políticos assentes nos interesses nacionais e na preservação da ordem constitucional, “respeitando sempre o princípio da não ingerência”.
Da mesma forma, defende a negociação mutuamente aceita para a resolução de disputas no mundo, com respeito ao Direito Internacional, acrescentou o chanceler anfitrião, referindo-se diretamente à disputa russo-ucraniana.
Segundo Lavrov, o Governo do seu país valoriza as posições equilibradas de Angola na Organização das Nações Unidas (ONU), nomeadamente as ligadas ao conflito em causa.
Para proteger a vida das pessoas e a sua própria segurança, a Rússia foi obrigada a intervir militarmente, lembrou o chefe da diplomacia da nação eurasiana.
Valorizou também as oportunidades de negócios abertas em Angola e o papel do Presidente Lourenço na pacificação da região dos Grandes Lagos e da área da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.
Como resumo do dia, António considerou que houve um encontro “frutífero”, que vai reforçar a cooperação bilateral e regional.
O Ministério das Relações Exteriores (MIREX) anunciou, esta sexta-feira, que vai “dentro do melhor prazo na regularização e normalização do processo de rotatividade, na implementação do plano de formação, do seguro de saúde para os seis funcionários e dependentes”, entre outros desafios.
A informação foi avançada esta sexta-feira, em Luanda, pelo ministro das Relações Exteriores, Téte António, ao discursar na cerimónia de cumprimentos de fim e início de Ano Novo.”Perspectivamos a realização do Conselho Consultivo Alargado no primeiro trimestre do corrente ano, sendo que aproveitaremos a ocasião para certamente abordar estes assuntos e outros que dizem respeito ao funcionamento diário do nosso Ministério, bem como a vida quotidiana dos funcionários no seio da instituição”, disse o chefe da diplomacia angolana