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O jornal de análise política La Época de domingo advertiu hoje que a greve indefinida dos grupos de poder de Santa Cruz e a sua rejeição do diálogo visam encurtar o mandato do presidente constitucional da Bolívia, Luis Arce.
“O que está em curso é um novo golpe de Estado, embora a interrupção da democracia assuma uma forma diferente da de Novembro de 2019, quando uma combinação de revoltas civis e militares derrubou o antigo presidente Evo Morales”, afirma o semanário no seu editorial.

A publicação afirma que o pretexto do Censo da População e Habitação como mecanismo de desestabilização política foi confirmado na ruptura do diálogo na véspera em frente das câmaras de televisão nacionais.
De acordo com o jornal, a intenção dos golpistas é atribuir ao vice-presidente, David Choquehuanca, a tarefa constitucionalmente mandatada de lançar o apelo imediato às eleições gerais.
O editorial destaca o “esforço extremo” do Executivo para chegar a um acordo com o Comité Interinstitucional de Santa Cruz (Comité Cívico Pro Santa Cruz, o Gabinete do Governador e a Universidade Autónoma Gabriel René Moreno -Uagrm-) para evitar uma greve que está a custar ao departamento e ao país 36 milhões de dólares por dia.
Contudo, “acima de tudo, o projecto político que está escondido na medida extrema impediu os bolivianos de começar os últimos dias do mês com paz de espírito”, acrescenta.
O documento recorda que o reitor do Uagrm, Vicente Cuéllar, propôs trabalhar numa norma que anularia o decreto 4760 sobre o recenseamento em 2024, de modo a que um trabalho técnico pudesse definir a data.
Mas Camacho travou imediatamente esta situação e explicou que iria “quebrar” o que Cuéllar tinha dito: “censo em 2023, tal como definido pela Câmara Municipal” de 30 de Setembro.
A Ministra da Presidência, María Nela Prada, recordou que os sectores sociais também realizaram uma reunião a 21 de Outubro e aprovou a sua rejeição da greve e a defesa do seu direito ao trabalho. “Em momento algum procurámos a violência, procurámos este cenário”, recordou ela em referência ao diálogo.
Para além das diferenças, concordou-se que a data do recenseamento deveria ser o resultado de um trabalho técnico, observou a Vice-Ministra da Comunicação, Gabriela Alcón.
Esta visão aparentemente desagradou a Camacho, e a partir desse momento teve lugar uma série de trocas verbais entre Camacho, Cuéllar, o activista cívico Stello Cochamanidis, um dos mais radicais, e o advogado do Uagrm José Luis Santiesteban, o editorial comentou o que foi visto na televisão.
A posição mudou após um recesso em que Camacho e a sua equipa se reuniram numa sala fora da fase de debate para aguardar a concepção de uma proposta no mesmo sentido: uma data para o censo baseada num estudo técnico, mas quando regressaram, interromperam as negociações.