O controverso ex-ministro das finanças da Colômbia, Alberto Carrasquilla, foi nomeado segunda-feira como novo co-director do Banco de la República, quase quatro meses após a sua partida no meio de protestos sociais desencadeados pela sua proposta de reforma fiscal.
O presidente colombiano, Iván Duque, oficializou a nomeação do funcionário, que não só serviu duas vezes à frente do Ministério das Finanças (a primeira vez, durante o governo de Álvaro Uribe), como foi também ex-reitor da Universidade de Los Andes e excelente técnico do Banco da República.
Desta forma, o controverso ex-ministro regressa a um dos postos-chave da economia, enquanto o Executivo faz uma nova tentativa de impulsionar uma reforma fiscal através do Congresso, para estar pronto nos próximos meses.
Em Maio passado, no auge dos protestos na Colômbia, Carrasquilla argumentou que a sua continuidade na pasta do Tesouro “dificultaria a construção rápida e eficaz do consenso necessário” para levar a cabo uma nova reforma fiscal. Meses mais tarde, após o fracasso da mesa de negociações e o desgaste das manifestações de rua, o antigo ministro foi nomeado para chefiar o Banco Central quando o projecto de lei já tinha sido submetido ao Congresso.
Carrasquilla substituirá Carolina Soto, que Duque reconheceu pelo seu “serviço à Colômbia e pela sua contribuição para a política monetária do país”. “Tive o prazer de a conhecer e trabalhar com ela em alturas diferentes da vida. Desejamos-lhe tudo de bom”, acrescentou.
A saída do Soto do conselho de administração do emissor surgiu na semana passada, quando foi confirmado que o seu marido, Alejandro Gaviria, concorreria como candidato à presidência da República para as eleições de 2022, depois de se demitir do cargo de reitor da Universidade de Los Andes. O funcionário, que veio para o cargo em 2018, tinha sido nomeado pelo ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos.
Reacção em redes
Apesar das credenciais que o Duque enumerou em alguns tweets, as reacções sobre essa rede social foram muito críticas à nomeação de Carrasquilla para o Banco da República, uma vez que há alguns meses o ex-ministro deixou o cargo devido a protestos de rua e a pressões da oposição, que pressionava uma moção de censura contra ele por promover uma iniciativa de reforma que contemplava o aumento do IVA sobre produtos e serviços, bem como a expansão do registo dos contribuintes, em plena crise económica grave agravada pelo impacto da pandemia da covid-19.
“A nomeação do ex-ministro Carrasquilla para o Banco da República é uma afronta, uma demonstração, por redução ao absurdo, de que o fracasso através da acumulação de soluções que não funcionam, são a chave para obter altos cargos neste governo”, escreveu o Professor Ignacio Mantilla Prada.
Embora Duque tenha retirado a reforma fiscal de Carrasquilla dias após a sua apresentação no Congresso, foi a centelha que acendeu os protestos maciços na Colômbia que foram brutalmente reprimidos pela polícia, um facto que não passou despercebido aos congressistas da oposição, como Gustavo Bolívar.
“Alberto Carrasquilla, autor da Reforma Fiscal que desencadeou o maior massacre de jovens da nossa história recente, foi nomeado co-director do Banco da República. Eles nem coram e nós nem sequer rimos”, escreveu Bolívar na sua conta do Twitter.
“Em vez de ser investigado e assumir a responsabilidade pela sua gestão catastrófica, Carrasquilla é promovido”, criticou o legislador da oposição Iván Cepeda Castro.
“A prova da independência do Dr. Carrasquilla é que ele apresentou uma reforma que quase derrubou o meu governo”, ironizou outro utilizador do Twitter.
A maioria das acusações contra Carrasquilla centram-se no fracasso da sua reforma fiscal quando era ministro, no clamor social que a sua proposta de lei provocou e na forma como o governo Duque “recompensou” com um cargo de alto nível um funcionário que deixou há menos de quatro meses, no meio de uma das crises políticas mais agudas para o presidente, um ano antes das próximas eleições presidenciais.