O Chefe de Estado, João Lourenço, participa, hoje até quinta-feira, aqui, em Washington, na Cimeira Estados Unidos-África, uma iniciativa do Presidente norte-americano, Joe Biden, para demonstrar o compromisso duradouro do seu país com a África e destacar a importância das relações e da cooperação, em prioridades globais compartilhadas, com o continente.
O evento, que vai contar, igualmente, com a presença de vários outros estadistas africanos, vai basear-se nos valores compartilhados, com vista à melhoria de um novo envolvimento económico e o reforço do compromisso entre EUA e África com a democracia e os direitos humanos, mitigação do impacto da pandemia da Covid-19 e de futuras pandemias, trabalhar em colaboração para fortalecer a saúde regional e global, promover a segurança alimentar, a paz e a segurança, bem como responder à crise climática e ampliar os laços da diáspora.
A Cimeira vai decorrer no Centro de Convenções de Walter Washington, com eventos oficiais adicionais ao encontro, a ocorrerem em vários outros locais aqui na capital norte-americana.
O estadista angolano faz-se acompanhar, nesta deslocação, da Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, e de vários membros do seu Executivo, que, em Washington, estão a distribuir-se pelos diferentes painéis, onde serão discutidas as formas como os Estados Unidos da América pretendem relacionar-se, doravante, com o continente africano, sobretudo no que ao sector económico e da cooperação diz respeito.
Congresso anual do Exim Bank
Às 8h00 locais, o Chefe de Estado vai participar no Congresso Anual da Eximbank, principal evento desta instituição, que será realizado de forma híbrida, com a participação de cerca de 100 pessoas, sendo 75 no formato presencial. Nesta cerimónia, o Presidente da República, João Lourenço, que estará acompanhado do homólogo moçambicano, Filipe Nyusi, será convidado a proferir algumas palavras de circunstância.
O congresso será realizado no formato de debate, com a duração de aproximadamente 30 minutos, com a moderação do director Editorial, Diversidade e Cultura do Jornal Político, John Yearwood.
A audiência deste evento será composta por exportadores dos EUA (grandes e pequenos), bancos (incluindo JPM Morgan, Citi e PNC) e outras instituições financeiras, entidades do Governo do Presidente Biden, membros do corpo diplomático em Washington, agências de crédito à exportação não americanas, associações comerciais, tais como a Câmara de Comércio dos EUA e a Associação Nacional dos Manufactureiros, laboratórios de ideias, como o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais e Brookings Institute.
Audiência a Anthony Blinken
Depois deste encontro, o Presidente João Lourenço vai receber, em audiência, o secretário de Estado Anthony Blinken, o secretário da Defesa, Lloyd Austin, e o coordenador especial do Presidente norte-americano para Parcerias em Infra-Estruturas Globais e Investimento, Amos Hochstein. O programa de actividade do Chefe de Estado, para hoje, prevê, igualmente, audiência ao presidente do Banco Mundial, David Malpass, e uma recepção oferecida pela Câmara dos Representantes no Capitólio. Aqui, o estadista angolano estará acompanhado da Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, e de membros do Executivo. Já no período da noite, o Chefe de Estado será brindado com um jantar de gala, oferecido pela Câmara de Comércio dos EUA.
Promoção da diplomacia económica no Congresso Anual do Eximbank
O ministro das Relações Exteriores, Téte António, considerou, ontem, em Washington, Estados Unidos da América, a participação do estadista angolano, hoje, no Congresso Anual do Eximbank, uma oportunidade para a promoção da política económica do país, bem como para a atracção de mais investidores privados.
O chefe da diplomacia angolana, que fazia o balanço das actividades de ontem e o lançamento das que vão acontecer hoje, referiu que neste congresso participam vários homens de negócios e outras personalidades com forte intervenção na vida económica norte-americana. “O Eximbank é uma instituição de grande relevo”, destacou.
Téte António ressaltou que, tal como ontem, a agenda de hoje do Chefe de Estado também vai ser dedicada à diplomacia económica.
Referiu que o interesse dos norte-americanos em querer investir em Angola se deve ao facto da acção governativa do Presidente João Lourenço estar a ser bem vista pelos empresários americanos. “Significa que a mensagem está a passar junto de vários actores e, também, que a acção governativa do Presidente João Lourenço está a ser vista com bons olhos”, realçou.
Em relação à Cimeira EUA-África, o ministro das Relações Exteriores disse que, anteriormente, os Estados Unidos da América não tinham demonstrado o mesmo interesse que outras nações já o tinham feito em estabelecer uma parceria estratégica com o continente africano. Referiu que o paradigma usado pelos EUA, para se relacionar com o continente, era mais virada para o formato de uma reunião anual com a Comissão da União Africana.
No plano prático, fez saber que esta Cimeira de Washington vai abordar questões relacionadas com a energia, comércio, saúde e muitos outros temas importantes na relação entre EUA e o continente africano. “Será uma Cimeira bastante abrangente”, assegurou.
Téte António salientou que o grande dia de Angola nesta Cimeira acontece amanhã, quarta-feira, com a intervenção do Presidente da República num dos painéis relacionados com a construção de um futuro sustentável, no âmbito das parcerias para financiar infra-estruturas, incluindo a transição energética. Em relação ao último dia da cimeira, marcada para quinta-feira, o chefe da diplomacia angolana disse que será nesta data em que vai acontecer o encontro dos líderes, onde se vai falar da Agenda 2063, da União Africana.
Os Estados Unidos decidiram excluir Cuba, Venezuela e Nicarágua da IX Cimeira das Américas, marcada para 8-10 de Junho na cidade de Los Angeles sob o lema “Construir um futuro sustentável, resiliente e equitativo”.
Segundo o anúncio do Departamento de Estado norte-americano, o objectivo do evento seria promover a luta contra a pandemia da COVID-19 e a recuperação “verde” das economias, uma gestão “abrangente” do fenómeno migratório, e a procura de “um consenso hemisférico” relativamente aos desafios da democracia como forma de governo na região.
Na sequência da narrativa de Washington, Cuba, Venezuela e Nicarágua nada teriam a dizer sobre saúde, economia, migração e democracia, ainda que estas sejam questões centrais para todos os países do hemisfério.
Talvez o que esteja realmente a acontecer é que Washington não está interessada em ouvir o que estes três países têm a dizer sobre o assunto, simplesmente porque sabe que o discurso dos chamados “governos irritantes” não seguirá o guião concebido pela actual administração dos EUA para a região.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros Bruno Rodríguez Parrilla já tinha denunciado a exclusão de Washington de Havana dos preparativos para o fórum e a pressão exercida sobre os governos vizinhos que se opõem a esta posição.
O chefe da diplomacia cubana assegurou que impedir a presença de Cuba na reunião seria um sério passo histórico para trás e seria prejudicial para os objectivos das conversações.
A intenção de excluir Havana da cimeira seria uma manobra de motivação política, como parte da duplicidade de critérios ligada à situação interna e eleitoral nos Estados Unidos.
Numa entrevista recente ao jornal norte-americano The Hill, o Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros Carlos Fernández de Cossío salientou que o governo norte-americano, como anfitrião do evento, sente que tem o privilégio de convidar apenas aqueles que deseja e mesmo assim chamar ao evento a Cimeira das Américas.
Acrescentou que, na realidade, a Casa Branca pretende realizar uma cimeira de amigos que sejam capazes de ouvir o que os EUA dizem, aceitar a agenda dos EUA e replicar o que os EUA dizem.
O Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros cubano exortou Washington a não ter medo de dialogar, mesmo quando a questão possa parecer conflituosa ou quando outros possam ter noções ou visões diferentes das suas próprias.
Mas, como dissemos anteriormente, Washington sabe que o que Cuba, Venezuela e Nicarágua têm a dizer não será do seu agrado.
As Cimeiras das Américas têm sido realizadas de três em três ou de quatro em quatro anos desde a sua fundação em Miami em 1994. Esta será a primeira vez que os EUA o acolheram desde então.
A IX Cimeira deveria ter tido lugar em 2021 e foi adiada, de acordo com os americanos, devido à pandemia (discussões não consensuais sobre se seria realizada em formato presencial ou virtual).
Contudo, o atraso pode ter sido devido a questões políticas, tais como a evidente crise interna no seio do executivo dos EUA, relacionada com questões eleitorais, e a realização de eleições presidenciais em alguns países da América Latina.
De acordo com Elio Emilio Perera Pena, investigador do Centro de Política Internacional e Mestre em História Contemporânea e Relações Internacionais, o contexto em que a cimeira terá lugar é complexo.
“A pandemia continua a varrer o mundo, não só com efeitos sanitários mas também socioeconómicos.
“Os EUA vêem o seu imperialismo unipolar sob ameaça, enquanto outros blocos de poder têm feito incursões, e a um ritmo acelerado.
“Washington e os seus parceiros europeus empurraram a OTAN para as fronteiras da Rússia, e agora vemos como a guerra na Ucrânia está a afectar a economia global, com o aumento dos preços do petróleo, gás, produtos de base e alimentos.
“Além disso, a 9ª Cimeira terá lugar antes da reunião dos Ministros da Defesa das Américas prevista para o final do ano, que incluirá na sua agenda questões de segurança e outras diferenças regionais, tais como a situação das Malvinas, a base militar na Guiana Francesa, a posição do principal aliado extra Aliança do Atlântico Norte (OTAN) para a Colômbia, e os interesses dos EUA em preservar a defesa latino-americana contra o que considera serem regimes nefastos (Venezuela, Nicarágua e Cuba)”.
Até agora, realizaram-se oito cimeiras regulares: Miami (1994), Santiago do Chile (1998), Quebec (Canadá, 2001), Mar del Plata (Argentina, 2005), Porto de Espanha (Trinidad e Tobago, 2009), Cartagena de Indias (Colômbia, 2012), Panamá (2015) e Lima (Peru, 2018). Contudo, apenas a cimeira realizada no Panamá contou com a presença de todos os líderes dos 35 países que compõem a Organização dos Estados Americanos (OEA) e Cuba.
Cuba repetiu a sua participação três anos mais tarde, em Lima, mas esse acontecimento foi marcado pela ausência da Venezuela.
Além disso, em 2018, pela primeira vez, o Presidente dos EUA não compareceu, pois Donald Trump (2017-2021) delegou o Vice-Presidente Mike Pence para o representar na reunião.
América Latina, um quintal? O Presidente cubano Miguel Díaz-Canel rejeitou a manipulação política dos EUA que visava excluir Cuba da 9ª Cimeira das Américas.
“Os Estados Unidos não compreendem que a região da América Latina e das Caraíbas mudou para sempre e que não há espaço para restabelecer a Doutrina Monroe e a visão pan-americana, com a qual procura impor o seu domínio hegemónico no Hemisfério Ocidental”, salientou durante o seu discurso na recente Sessão Plenária do Comité Central do Partido Comunista.
Ele sublinhou que não há uma única razão que justifique excluir Havana ou qualquer outra representação das Américas do evento. “Ninguém pode negar que a realização de outra reunião deste fórum sem a presença de Cuba representaria um retrocesso histórico nas relações hemisféricas”, afirmou.
O presidente cubano também denunciou a exclusão de Cuba de participar nas negociações do Plano de Acção sobre Saúde e Resiliência nas Américas até 2030, um dos documentos que será levado à reunião de Los Angeles.
Isto é uma verdadeira afronta”, disse ele, “sabendo que os resultados de Cuba na área da saúde são inquestionáveis. “Em tempos de pandemia, é um ultraje ainda maior ignorar a contribuição de Cuba, os seus notáveis avanços científicos e a sua cooperação solidária na luta contra a COVID-19”, disse ele.
Os analistas acreditam que na IX Cimeira das Américas, a administração de Joe Biden pretende delinear os novos objectivos ou parâmetros que, na sua opinião, deveriam reunir e unificar os países do hemisfério. Um cenário em que, ao que parece, as vozes alternativas não teriam lugar.
Ao assumir a presidência em Janeiro de 2021, Biden repetiu várias vezes a mensagem de “a América está de volta”, com a qual pretendia dar a ideia de que a sua Administração visava pôr fim ao isolacionismo internacional dos EUA que caracterizava a Administração Trump, e que as alianças multilaterais seriam reconstruídas, o que lhe permitiria confrontar a China e a Rússia, os seus principais rivais, com maior sucesso.
As prioridades da política externa de Biden foram então delineadas da seguinte forma: sair do Afeganistão o mais decentemente possível (após o fiasco); reafirmar os laços com a Europa Ocidental e Oriental, em detrimento da Rússia, através da OTAN; e implementar a chamada estratégia Indo-Pacífico, com o objectivo de conter a influência da China nessa área.
E na América Latina? Os peritos acreditam que, neste esquema, a região foi relegada para segundo plano.
Para Biden, o mais importante em relação à América Latina seria deter a crescente migração dos centro-americanos através do México, nas suas palavras, “da forma mais ordeira e humanitária possível”; dar uma mudança de direcção na política para a Venezuela, onde as tentativas de derrubar Nicolás Maduro por meios militares ou por meio de uma revolta popular generalizada se revelaram inúteis; multiplicar o diálogo com os governos vizinhos para colocar obstáculos ao avanço económico da China na região; e também conter o avanço dos governos progressistas.
Em Dezembro de 2021, Biden apelou a uma cimeira global (ou melhor, um espectáculo) de democracias, da qual, para além da China e da Rússia, foram naturalmente excluídos oito países latino-americanos: Venezuela, Nicarágua, Cuba, Bolívia, El Salvador, Honduras, Guatemala e Haiti.
O presidente do Diálogo Interamericano, Michael Shifter, afirmou nessa ocasião que “a ausência dos países ibero-americanos é muito provável que seja contraproducente tanto para os interesses dos EUA como para a democracia na região”.
Vozes múltiplas de políticos e líderes sociais de todo o mundo criticaram então as acções de Washington, como o fazem agora, quando Biden repete o guião excluindo Cuba, Venezuela e Nicarágua da IX Cimeira das Américas.
Que moral têm os EUA para impor prescrições para a democracia e o respeito pelos direitos humanos?
Para citar o Ministro dos Negócios Estrangeiros Bruno Rodríguez: “O governo dos EUA terá pouco a mostrar na Cimeira das Américas após a última campanha e eleições presidenciais, o assalto ao Capitólio, o envolvimento de políticos em sedições e a corrupção intransponível da política”.
O governo dos EUA não é um modelo de direitos humanos, argumentou o ministro, um ponto frequentemente levantado por outras vozes na arena política internacional.
“A violação sistemática dos direitos à saúde, dos direitos da população abaixo do nível de pobreza, do direito à educação, do direito à alimentação dos americanos; políticas anti-imigração repressivas e brutais, falta de protecção e cuidados com os sectores de baixos rendimentos, repressão das minorias, pessoas LGTBIQ+, restrição dos direitos sindicais, exploração e repressão dos povos e culturas indígenas, lacunas na igualdade e discriminação de género, racismo e discriminação contra afro-americanos, brutalidade policial e mais de 1.000 tiroteios policiais em 2021.
“Os EUA é o país da exploração do trabalho prisional privado, da violência e das armas, da repressão do aborto e dos direitos de saúde reprodutiva; é o governo das guerras, das prisões secretas, dos raptos, das execuções extrajudiciais e do uso da tortura (…)”.
O encontro entre o Presidente cubano Raúl Castro e o Presidente norte-americano Barack Obama teve lugar na Cimeira do Panamá. Foto: VII Cimeira das Américas website.
Cuba e as Cimeiras das Américas As Cimeiras das Américas realizam-se sob os auspícios da Organização dos Estados Americanos (OEA), uma organização que expulsou Cuba em 1962 por iniciativa de Washington, após o Comandante-em-Chefe Fidel Castro ter declarado o carácter socialista da Revolução Cubana.
Em 2009, a OEA levantou a sanção contra Cuba, mas o governo revolucionário rejeitou a sua reincorporação nesta organização, considerando que esta sempre foi um instrumento de dominação dos EUA.
Prova disso é que através dos documentos que estão hoje a ser negociados de forma obscura para apresentação na Cimeira das Américas, o objectivo é impor que a OEA certifique todos os processos eleitorais na região.
Com a chegada de Hugo Chávez à presidência da Venezuela em 1998 e o triunfo de vários governos progressistas na região, a participação de Cuba nas Cimeiras das Américas começou a ser exigida.
Na Quinta Cimeira, realizada em Trinidad e Tobago em 2009, o Presidente Barack Obama enfrentou um forte desafio à hegemonia dos EUA e teve de abordar a necessidade de uma nova política dos EUA para a América Latina e as Caraíbas.
A exigência da presença de Cuba nas cimeiras tornou-se ensurdecedora na sexta reunião em Cartagena das Índias, Colômbia, em 2012, em cujo plenário Washington foi isolado sobre esta questão pelas declarações de vários governos de que não haveria próxima cimeira sem a incorporação de Havana.
Em 2015, o governo do Panamá, o país anfitrião da VII edição, convidou o Presidente Raúl Castro, que participou pela primeira vez na história, como resultado do consenso sólido e unânime da América Latina e das Caraíbas.
Cuba repetiu a sua presença em 2018, em Lima, Peru.
O sociólogo e cientista político cubano Jorge Hernández Martínez, professor no Centre for Hemispheric and US Studies (Cehseu), declarou que desde a presidência de Eisenhower até à de Biden, o confronto com a Revolução Cubana tem sido um elemento funcional e fundamental na concepção e implementação da política dos EUA para a América Latina e as Caraíbas.
Para os EUA, a única opção válida com Cuba seria o estabelecimento de “uma relação de dependência”, que, obviamente, nós cubanos não estamos dispostos a aceitar.
Após mais de 60 anos de confrontação, Cuba continua a ser objecto dos mais variados métodos ou modalidades de agressão por parte dos EUA.
Actualmente, as expectativas de que a presidência de Biden retomaria a abordagem de Obama, ou pelo menos aliviaria as tensões geradas por Trump, dissiparam-se, escreve o investigador no seu artigo The US Latin American Policy and the Cuban Revolution.
No primeiro ano da administração Biden, não só não houve muitos sinais de melhoria nas relações, como a política de reforço do bloqueio foi mantida, acrescentando novas pressões e reavivando o discurso que exige mudanças nos conceitos e práticas de Cuba em questões como a democracia e os direitos humanos, como condições para modificar as relações com a ilha, salienta Hernández Martínez.
O confronto com Cuba continua a ser uma espécie de eixo em torno do qual a política latino-americana dos EUA como um todo é modelada.
Para o analista do Cehseu, Cuba é o caso teste a partir do qual Washington concebe a abordagem e tratamento de outros casos, tais como Venezuela, Nicarágua ou Bolívia, que são considerados tão problemáticos como Cuba para os interesses dos EUA na região.
Neutralizar a influência de Cuba e enfraquecer os processos revolucionários, progressistas e anti-imperialistas na América Latina têm sido motivos essenciais da política dos EUA para a região, recorda o perito.
Acrescenta que “a relação histórica dos EUA com a América Latina é definida sobretudo, do século XIX ao século XXI, por uma grande assimetria de poder, por uma forte dependência e conflitos repetidos (…) A importância, importância e prioridade que a região adquire para os EUA depende de situações específicas, mas existem interesses geopolíticos e geoeconómicos de longa data”.
O historiador americano Lars Schoultz define três considerações que sempre determinaram a política dos EUA em relação à América Latina: primeiro, a pressão da política interna dos EUA; segundo, a promoção do bem-estar económico dos EUA; e terceiro, a protecção da segurança nacional dos EUA.
A América Latina mudou profundamente desde o final do século XX, com a emergência de processos de esquerda, governos e movimentos sociais, juntamente com alternativas integracionistas como a ALBA-TCP e o Celac, mas a projecção norte-americana mostrou mais continuidade do que mudança, acrescenta Hernández Martínez.
O que é certo é que os EUA continuam a pensar numa “América para os Americanos”, no estilo Monroista.
“O esquema de subversão ideológica que o imperialismo promove na América Latina é congruente com aquele que aplica em Cuba. O discurso contra-revolucionário utilizado contra a Venezuela e a Nicarágua tenta actualmente, como em Cuba, desarticular a unidade ideológica entre o povo e a liderança, em circunstâncias em que a ofensiva contra o socialismo é protegida por considerações reformista, social-democratas, que apelam a uma flexibilização da sua relação antinómica e incompatível com o capitalismo, baseada numa alternativa centrista, que consegue confundir, dividir, semear a dúvida e o desencanto em relação à viabilidade do socialismo”, afirma o analista do Cehseu.
… Na 9ª Cimeira das Américas, os Estados Unidos tentam impor aos governos do hemisfério o que consideram ser os seus interesses vitais, sem que ninguém faça qualquer barulho no seu discurso. Isto é comum nestas reuniões, mas muito perigoso no contexto actual.
Questões-chave como a saúde e a migração não serão tratadas em profundidade, mas sim no quadro discriminatório da política de Washington.
O candidato democrata ganhou 59% dos votos hispânicos nas eleições de 2020, enquanto Donald Trump ganhou 38% entre a mesma população. Contudo, a partir de hoje, a taxa de aprovação do Presidente Biden caiu para apenas 26% entre os eleitores hispânicos, de acordo com os dados das sondagens Quinnipiac.54% dos latinos disseram que desaprovam o trabalho que Joe Biden está a fazer como presidente, e 20% tiveram dificuldade em decidir. Assim, a aprovação de Biden entre os latinos é a mais baixa de qualquer presidente desde pelo menos 1980, quando Ronald Reagan ganhou as eleições com 35% de apoio entre a população.
O analista de dados de sondagem John Anzalone diz que parte do problema para os democratas quando se trata de latinos é que eles pensam que tudo o que lhes interessa é a imigração.
“Acho que o mito que tem de ser sempre apanhado entre latinos e afro-americanos é que, muitas vezes, há esta narrativa em Washington entre os democratas de que só se fala com os latinos sobre imigração. Mas na realidade, a imigração é a 12ª questão que os preocupa. Adivinhe? Estão preocupados com as mesmas coisas com que todos os outros estão preocupados: concentram-se sempre na economia, na inflação, nos cuidados de saúde ou nas escolas. Certamente coisas como habitação e crime também tendem a ser mais elevadas entre afro-americanos e latinos”, explicou Anzalone num podcast da Politico.
Entretanto, 31% dos eleitores brancos e 63% dos eleitores negros expressaram a sua aprovação ao desempenho de Biden, enquanto 59% dos eleitores brancos e 25% dos eleitores negros desaprovaram, de acordo com dados compilados pela Universidade Quinnipiac (estado de Connecticut).
A sondagem também encontrou Biden no fundo quando se tratou de apoiar os jovens, com apenas 21% dos eleitores com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos a dizer que aprovam o seu desempenho, enquanto 58% desaprovam. Os números das sondagens de Biden foram atingidos por uma série de problemas que vão desde a inflação galopante e os preços das casas que disparam até aos preços recorde da gasolina.
A Casa Branca tentou desviar algumas das culpas para a Rússia, mas os especialistas e os meios de comunicação social assinalaram que a inflação e os preços da energia começaram a subir meses antes de a Rússia iniciar a sua operação militar na Ucrânia. O apoio a um candidato entre os eleitores hispânicos é muitas vezes crucial nas eleições estaduais e federais, uma vez que a população representa quase 20% da população e constitui frequentemente um voto decisivo em estados-chave.
Trump contou com uma maioria dos votos hispânicos em 2020.
Em 2020, Trump derrotou Biden com êxito com hispânicos em estados como o Texas e Florida, mas perdeu para Biden noutros, incluindo Arizona e Geórgia. A campanha Trump acusou os Democratas de fraude eleitoral generalizada nesses Estados, mas as suas reivindicações não foram defendidas em nenhum tribunal.
A produção americana de sistemas antiaéreos Stinger e sistemas Javelin anti-tanque pode ser aumentada para reabastecer o seu stock após o envio de armas para a Ucrânia, admitiu na sexta-feira Doug Bush, Subsecretário do Exército dos EUA para a Aquisição, Logística e Tecnologia.
“Penso que estas são na realidade duas oportunidades para o Exército avançar rapidamente, a forma como o Congresso quer que reabasteçamos esses stocks. [Penso que podemos fazer isso”, disse ele num evento organizado pelo site militar DefenseNews.
Comentando sobre o pacote de financiamento do Pentágono de $1,5 triliões aprovado pelo Congresso em meados de Março, Bush disse que a defesa “está muito agradecida”. “Estamos muito perto de estar prontos para comunicar ao Congresso os nossos primeiros passos nessa direcção”, disse ele.
Ao mesmo tempo, Bush observou que a acumulação de produção coloca uma série de desafios ligados à aquisição a longo prazo, ao desenvolvimento de equipamento auxiliar e às preocupações da cadeia de abastecimento.
Os mísseis Stinger e Javelin constituem uma parte considerável da assistência militar dos EUA à Ucrânia. Na sexta-feira passada, Washington anunciou que fornecerá a Kiev 800 sistemas Stinger e 2.000 sistemas Javelin. Anteriormente, a 3 de Março, os EUA entregaram 200 mísseis Stinger à Ucrânia.
De acordo com Pequim, mais de 30 laboratórios biológicos relacionados a Washington foram identificados na Ucrânia.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, pediu a Washington nesta segunda-feira (14) que dê uma explicação completa sobre sua pesquisa biológica no exterior.
De acordo com Zhao, mais de 30 laboratórios biológicos relacionados a Washington e, em particular, ao Departamento de Defesa dos EUA foramidentificados na Ucrânia. Embora alguns dos laboratórios em questão estejam fora de serviço, também foi constatada a presença de patógenos da peste em alguns deles.
Segundo o porta-voz chinês, Washington destinou mais de US$ 200 milhões para as investigações realizadas nestas instalações. “Os EUA investiram mais de 200 milhões de dólares, em que gastaram o dinheiro? Que tipo de patógenos estavam investigando?”, disse Zhao em entrevista coletiva.
‘Dois pesos, duas medidas’
De acordo com o porta-voz chinês, as informações falsas espalhadas por Washington são “inaceitáveis”. “OsEUA estão mentindo, estão escondendo a verdadeira agenda dessas atividades da sociedade americana”, disse Zhao, acrescentando que o governo do país excluiu todos os documentos sobre o assunto de seu site oficial.
“Se os EUA querem provar a sinceridade de suas atividades, por que não abrem os laboratórios biológicos para avaliação independente por especialistas internacionais?”, disse o porta-voz chinês. “Por que não publicam a informação autêntica para provar sua inocência?”, questionou.
Segundo Zhao, Washington se recusa a se unir aos esforços internacionais para acabar com os experimentos biológicos ao mesmo tempo em que acusa outros países de criarem alegadasameaças biológicas. “É um típico jogo americano de dois pesos e duas medidas”, disse ele.
“Esperamos que os EUA possam assumir uma postura responsável, esclarecer suas atividades na Ucrânia e não se opor ao estabelecimento de uma estrutura de investigação das armas biológicas, o que ajudará os EUA a conquistar a confiança global e melhorar a segurança”, concluiu o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
Os Estados Unidos, desde 1959, têm insistido em culpar Cuba por ser responsável por ser sancionada com um cruel bloqueio económico e financeiro que durou 63 anos, mas a verdade histórica é que desde o século XIX os Yankees têm ambições de tomar a ilha e a Revolução popular liderada por Fidel Castro, cortou os seus desejos de longa data; daí a razão pela qual pretendem asfixiá-la economicamente para que caia novamente nos seus braços e instale um novo governo que será subserviente aos seus interesses políticos e económicos.
Em 1805, o Presidente Thomas Jefferson disse ao embaixador britânico que, “em caso de guerra com Espanha, os Estados Unidos tomarão Cuba por razões estratégicas relacionadas com a defesa do nosso território”.
Em 1822, John Quincy Adams, Secretário de Estado, opôs-se à independência de Cuba e Porto Rico, algo que reafirmou numa carta dirigida a Thomas Randall, o agente introduzido em Havana, instruindo-o a obter informações sobre a situação política na ilha, os sentimentos dos seus habitantes e os acontecimentos relacionados com o governo espanhol, com o objectivo de evitar que a Grã-Bretanha ou a França tomem posse de Cuba no caso de a Espanha perder a sua posse.
As suas aspirações de apreender Cuba começaram quando uma revolução socialista não era sequer concebível, de modo que a justificação se desmorona perante a verdade histórica.
Thomas Jefferson disse em 1823:
“Confesso, com toda a sinceridade, que sempre considerei Cuba como a adição mais interessante que poderia ser feita ao nosso sistema de Estados. O controlo que a Florida nos daria a partir daquela ilha sobre o Golfo do México e os países da América Central, bem como as terras cujas águas fluem para o Golfo, garantirão plenamente a nossa segurança continental.
Ao mesmo tempo, o Secretário de Estado J.Q. Adams notou:
“Pela sua localização geográfica, Cuba e Porto Rico são apêndices naturais dos Estados Unidos… Forças de gravidade política farão com que Cuba caia eventualmente nas nossas mãos”, conhecida como a teoria do fruto maduro.
Será o comunismo a causa do bloqueio económico, comercial e financeiro imposto após 1959, ou foi a frustração de perder a cobiçada ilha até então o seu paraíso do jogo, da droga, da prostituição e da posse das melhores terras, minas, indústrias, bancos e serviços que revestiam os bolsos do imperialismo americano?
Será que Washington esqueceu estes antecedentes?
James Buchanan, em 1848, escreveu: “A aquisição de Cuba irá reforçar profundamente os laços da nossa União e assegurar a perpetuidade da União”.
O Secretário de Estado Williams Marcy acrescentou: “A posse de Cuba é uma questão da maior importância, como medida preventiva de segurança e essencial para o bem-estar dos Estados Unidos”.
A história não mente sobre a obsessão dos Yankees em tomar posse da Pérola das Antilhas, algo ratificado por Roger Mills, Senador do Texas, que afirmou: “Temos o direito de controlar o destino de Cuba e no exercício desses direitos de estabelecer o destino do povo cubano”.
Outro senador, John Critienden, do Kentucky, insistiu em 1859: “Cuba deve vir até nós, deve ser nossa em breve”.
Nesse mesmo ano, Miles Taylor, representante da Louisiana, afirmou: “Cuba é contígua ao nosso território e a sua posição geográfica é tal que parece marcada pela natureza para se tornar parte da União”.
Ao longo de três séculos, houve muitas opiniões expressas por políticos ianques sobre a possessão de Cuba, mas com o passar do tempo veio Fidel e a diversão acabou.
A Revolução Cubana, que se tornou socialista sob a pressão da repressão americana, especialmente a proibição da venda e refinação de petróleo, o corte nas compras de açúcar, actos terroristas e a invasão mercenária organizada e financiada pela CIA, frustrou o domínio ianque de Cuba, após a sua intervenção pretextual na guerra hispano-cubana de 1898, para impedir que este país se tornasse independente e soberano.
A imposição a Cuba do apêndice constitucional em 1901, conhecido como Emenda Platt, prova os verdadeiros planos dos Estados Unidos, roubando-lhe o direito de ser livre, de confiscar parte do seu território e o poder de intervir militarmente sempre que desejassem.
Basta recordar alguns dos seus parágrafos, que revelam os verdadeiros planos dos Yankees:
“O Governo de Cuba, consente que os Estados Unidos possam exercer o direito de intervenção a fim de preservar a independência cubana, a manutenção de um Governo adequado para a protecção de vidas, bens e liberdade individual e para cumprir as obrigações que, no que diz respeito a Cuba, foram impostas aos Estados Unidos pelo Tratado de Paris e devem agora ser assumidas e cumpridas pelo Governo de Cuba”.
“O Governo de Cuba consente que os Estados Unidos possam exercer o direito de intervenção para preservar a independência cubana, a manutenção de um Governo adequado à protecção de vidas, bens e liberdade individual e para cumprir as obrigações que, em relação a Cuba, foram impostas aos Estados Unidos pelo Tratado de Paris e que devem agora ser assumidas e cumpridas pelo Governo de Cuba”.
“Todos os actos realizados pelos Estados Unidos em Cuba durante a sua ocupação militar serão considerados válidos, ratificados e todos os direitos legalmente adquiridos em virtude dos mesmos serão mantidos e protegidos.
“A Ilha dos Pinheiros será omitida das fronteiras de Cuba, como proposto pela Constituição, e a propriedade da mesma será deixada para futura resolução por Tratado”.
“Para permitir aos Estados Unidos manter a independência de Cuba e proteger o povo, bem como para a sua própria defesa, o Governo de Cuba venderá ou arrendará aos Estados Unidos as terras necessárias para estações de carvão ou navais em determinados pontos especificados, a acordar com o Presidente dos Estados Unidos”.
Não é à toa que o primeiro Plano de Acção encoberto da CIA, aprovado a 17 de Março de 1960 pelo Presidente D. Eisenhower, declara como seu principal objectivo:
“O objectivo do programa aqui apresentado é a substituição do regime castrista por um que seja mais receptivo aos interesses reais do povo cubano e mais aceitável para os Estados Unidos”.
O governo socialista de Cuba não é nem nunca será aceitável para os ianques, pois nunca se ajoelhará, como os governantes fizeram entre 1902 e 1958, e por isso os cubanos devem pagar por tal desafio; mas como José Martí afirmou:
“Uma vez gozada a liberdade, já não é possível viver sem ela”.