Criações artísticas angolanas no Museu de Arte de Belgrado.

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Roque Silva

Obras de criadores angolanos estão expostas, até dia 31 de Agosto, no Museu de Arte Africana de Belgrado, na Sérvia, na mostra “Reflectir#2 – Fragmentos, Fragilidades, Memórias”, uma colaboração entre a instituição museológica e a galeria This Is Not a White Cube.

Diversidade e inovação no trabalho dos criadores nacionais é apresentado ao público na Sérvia até Agosto deste ano © Fotografia por: DR

A exposição colectiva mostra obras, em papel, instalações, performance, pintura, fotografia, têxtil e vídeo, de Januário Jano, Luís Damião, Nelo Teixeira, Ana Silva, Cristiano Mangovo, Alida Rodrigues, Francisco Vidal, Osvaldo Ferreira, Ery Claver e Pedro Pires.

Com curadoria conjunta de Ana Knežević, Emilia Epštajn, Graça Rodrigues e Sónia Ribeiro, a exposição reúne um abrangente panorama de uma produção multifacetada com obras que revelam, no seu todo, a forte afinidade à estética e materialidade estratificada do “arquivo” cuja quase inexistência, por negligência ou depauperação endémica, se tem revelado crítica em Angola.

O projecto foi concebido propositadamente para a ala de exposições temporárias, onde o Museu de Arte Africana de Belgrado dedica à arte contemporânea, e para estabelecer diálogo com a sua colecção permanente, espaço em que integram objectos, artefactos e obras de arte que reflectem a cultura material da África Ocidental, em que Angola se insere.

A integração de obras de arte contemporânea angolana oferece assim ao público uma nova perspectiva sobre questões museológicas ainda não resolvidas, relativas à arte africana.

A exposição alimenta o ímpeto da descolonização do pensamento e inclui criações maioritariamente inéditas, sendo, por isso, uma oportunidade excepcional para conhecer um trabalho que, com uma singular linha criativa, é, simultaneamente, do ponto de vista intelectual, material e técnico, bastante diverso e híbrido.

Dados que o Jornal de Angola teve acesso revelam que foi feita uma selecção cuidada das obras de artistas angolanos, representativas daquilo que é, num espectro alargado, a produção artística e a reflexão intelectual de uma geração icónica nascida após a independência de Angola, em 1975, sucedendo à afirmação dos movimentos independentistas, à Guerra Colonial Portuguesa e à deposição do regime ditatorial do Estado Novo, em Portugal.

As obras foram concebidas entre 2014 e 2022, período ao longo do qual se têm vindo a maturar naquele território os processos de construção de um discurso e de uma experimentação artística promotora de uma reflexão conceptual de fundo sobre as questões que histórica, política e socialmente, de forma mais gravosa, implicam o desenvolvimento sustentado do país tendo em conta a sua História recente.

Como um todo, a mostra explora criticamente os mecanismos de criação de cânones no meio artístico ocidental, privilegiando em número, a apresentação de obras que materialmente e tecnicamente se distanciam dos suportes e dos diversos géneros artísticos.

A colecção do Museu de Arte Africana de Belgrado, foi construída a partir de meados do século XX, no contexto do confronto ideológico Leste-Oeste, de afirmação do “Movimento não alinhado”, por oposição ao colonialismo, ao imperialismo,  ao neocolonialismo e ao fortalecimento das potências coloniais ocidentais e do pensamento de carácter hegemónico.

Apesar deste contexto, a exposição não deixa de reflectir, de múltiplas formas, uma representação canonizada da arte ocidental-africana. A sua releitura, à medida do que sucedeu internacionalmente em muitas outras colecções, foi  trabalhada institucionalmente, do ponto de vista interpretativo, científico e curatorial, em prol da descolonização do pensamento e da afirmação dos princípios do multiculturalismo e da diversidade cultural.

Museu de Arte Africana

Localizado em Belgrado, na República da Sérvia, o Museu de Arte Africana é o primeiro e único museu da região inteiramente dedicado às culturas e artes do continente africano.

Especialistas na matéria afirmam que os objectos do Museu de Belgrado compõem uma colecção representativa da arte africana.

Uma exposição permanente é composta maioritariamente por exemplos significativos de arte da África Ocidental, incluindo ainda objectos da colecção dos fundadores do museu, nomeadamente Veda Zagorac e Dr Zdravko Pečar. Paralelamente à mostra permanente, o museu realiza as suas pesquisas e apresenta diferentes análises temáticas através de exposições temporárias, nas quais procura explorar outras áreas culturais africanas: Etiópia, Magrebe, África Central e do Sul. A possibilidade de os curadores alargarem o seu campo de investigação além das colecções principais está, em parte, directamente ligada à colaboração que se tem vindo a desenvolver ao longo dos anos com coleccionadores e benfeitores locais e internacionais.

Um aspecto importante do trabalho do Museu de Arte Africana são as publicações regulares, essencialmente de catálogos de exposições, monografias, textos e artigos de especialistas e profissionais de Estudos Africanos, bem como a revista “AFRIKA: Estudos em Arte e Cultura”.

A apresentação do património cultural de África é realizada no Museu não só através de exposições, mas também através de programas populares como o Festival Afro, AFRAM e Mundo Colorido, os quais, através de palestras, exibições de filmes, oficinas de arte e música, noites temáticas e concertos expõem a riqueza da criatividade africana.

Durante cerca de quarenta anos, contribuiu significativamente para a promoção e fomentação das relações culturais, promovendo os princípios do multiculturalismo e da diversidade cultural. A base do trabalho do Museu de Arte Africana de Belgrado assenta sobre a importância e transmissão, apoio e defesa do património cultural e artístico africano e não europeu.

Autor: tudoparaminhacuba

Adiamos nossas vozes hoje e sempre por Cuba. Faz da tua vida sino que toque o sulco, que floresça e frutifique a árvore luminoso da ideia. Levanta a tua voz sobre a voz sem nome dos outros, e faz com que se veja junto ao poeta o homem. Encha todo o teu espírito de lume, procura o empenamento da cume, e se o apoio rugoso do teu bastão, embate algum obstáculo ao teu desejo, ¡ ABANA A ASA DO ATREVIMENTO, PERANTE O ATREVIMENTO DO OBSTÁCULO ! (Palavras Fundamentais, Nicolás Guillen)

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